O fascínio do brilho
Voltar ao passado para falar do presente é perceber quantas inovações aconteceram no decorrer das décadas. O brilho sempre foi discutido, questionado e muitas vezes exigido aos nossos antepassados.
Na casa grande da fazenda onde eu nasci, lembro de minha mãe areando as panelas de alumínio com areia branca e fina trazida do rio, depois colocando-as ao sol. As panelas tinham que brilhar como se fosse um verdadeiro espelho! O chão de madeira ou cimento vermelho era encerado, e o brilho se fazia lustrando com um pesado escovão de ferro. E minha mãe fazia o trabalho cantando...
Quando a família mudou pra cidade, meu pai catava pedaços de tijolo e deles, batendo com o martelo fazia um pozinho com o qual minha mãe continuava o trabalho de brilhar as panelas. Engraçado é que elas ficavam artisticamente expostas num tripé em harmonia com outros utensílios de alumínio.
Um dia o bombril foi inventado, e com ele vieram os armários embutidos. Para dentro deles foram as panelas secretamente escondidas. O suplicio do brilho no chão foi salvo pela enceradeira elétrica, considerada um luxo pelas pobres donas de casa.
Mas as inovações não pararam aí, vieram as panelas inoxidáveis com um brilho próprio, pisos impermeabilizados e ladrilhos porcelanizados.
A importância do brilho continua nos olhos da criança feliz, no sorriso da adolescente e no corpo da mulher amada. Agora a mulher se volta pra si mesma e faz do brilho a sua exigência nos esmaltes, na maquiagem, nos vestidos, nos sapatos e nas bolsas. Dos brocados e paetês ela finalmente entra no mundo das jóias.
Hoje os educadores falam de mentes brilhantes, os cientistas das novas estrelas a brilhar no espaço, mas o fascínio do brilho cega os homens quando na busca desesperada do poder.
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