sábado, 3 de dezembro de 2011

artigo

Dizer adeus

Fui apresentado a você no meio da noite, entre beijos, abraços, borbulhar de champanhe e o barulho de milhares de fogos ofuscando o brilho das estrelas na imensidão do céu. Você me recebeu sorrindo, cantando e dançando como se pudéssemos eternizar aquele momento. O nosso abraço foi pleno de certezas e eu, deslumbrado com sua receptividade, sem levar em conta minha falta de experiência, prometi realizar todos os seus desejos. Verdade, eu estava disposto a ir alem dos limites do meu aval de créditos pra fazer você feliz. Embriagado pelo seu olhar eu disse que você poderia me pedir tudo.

Sabíamos que estaríamos juntos por um tempo limitado e eu cumpri a maior das minhas promessas, fiquei ao seu lado todos os dias e não a abandonei mesmo quando dormia. Eu era jovem e impetuoso, desafiava o impossível, era mais veloz que o vento, venceria todas as batalhas e acalmaria a braveza dos mares. Você acreditou em mim!

Quando aceitei o convite para governar o mundo por 365 dias, não me importei em saber o que havia na bagagem que o coitado de um velho me entregou. Aquilo era passado, eu era o presente! Tinha o domínio perfeito em todos os campos da sabedoria, o meu reinado seria um marco na contagem dos séculos. No entanto, com o passar dos dias fui me inteirando da maldade que conduzia os homens, independente de raça, política e religião ao delírio da orgia e corrupção, dos vicio e das drogas, da violência e desamor. A luta inglória para fazer cumprir as regras impostas pelo próprio homem foi dizimando minhas forças.

Confesso que não dei conta da minha lista de deveres porque procurei em vão por mais pessoas iguais a você. Não perdôo a minha falha com o meio ambiente, choro junto das geleiras, dos rios e das matas, dos animais e dos pássaros a minha incapacidade de convencer a humanidade de sua própria destruição.

Nos dias que antecedem a nossa despedida eu peço que absolva as vezes que não correspondi à confiança que depositou em mim, os momentos em que a sua decepção quase nos separou, a tristeza que você escondeu de mim por ter que adiar seu sonho. Por outro lado eu quero brindar à audácia e determinação que conduziu você a vencer as turbulências do seu destino, chegando sã e salva a nossa festa de despedida. Ao apresentá-la ao meu sucessor eu fiz certeza que ele irá proporcionar a você a realização dos projetos que ficaram pendentes no meu reinado. Vou embora sem que perceba minha ausência.

Adeus, sou o Ano Velho, deixo você aos cuidados do Ano Novo.

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