Páscoa me faz lembrar pão, o pão que minha avó assava no forno de barro lá no quintal e cheirava longe. A gente esperava pra ver o pão saindo do forno quentinho, corado, depois embrulhado num pano enquanto o café coava no bule ao pé do fogão. Nem manteiga ou queijo cremoso nós tínhamos, era pão com café! A família toda reunida, aquele momento era Pascoa!
Hoje tem pão de tudo, aveia, soja, mel, grãos, batata, recheado, centeio, integral, italiano, espanhol, francês, mas não tem o pão que minha avó fazia. Antigamente conhecíamos apenas o pão de banha e o sovado. O cheiro do pão da madrugada sendo assado nas padarias era um convite para o desjejum. À tarde, lá vinha a carrocinha do padeiro, vendedor ambulante, com o pão ainda quente coberto, numa cesta de bambu. Ao toque da corneta saiam as donas de casa ao encontro do pão da tarde. Ninguém falava que o pão era um vilão, pão engorda, cuidado com o carbohidrato. Porque hoje brigar tanto com o pão quando ele é o alimento por excelência de toda a humanidade? O pão que esteve presente da idade das cavernas à mesa da Santa Ceia? Ele que é o mais referenciado de todos os alimentos até quando rezamos, o Pão Nosso de Cada Dia? E o pobre, famito, pede tão somente um pedaço de pão.
Os anos passam, ficam as lembranças...