sexta-feira, 18 de novembro de 2011

artigo

Aprender a esperar

Acordada no meio da noite, o sono acabou, quieta na cama espero pelo canto dos pássaros avisando que o dia está começando. A vida toda é um esperar sem fim...
Esperamos para nascer, ansiosos para conhecer o mundo aqui fora. Sem nenhum aprendizado damos os primeiros passos no caminho indefinido dos nossos desejos.
Muito pequena eu aprendi a esperar pelas refeições, nada nos era permitido comer antes do almoço ou jantar. Esperar pelo meu aniversário, esperar pelo Papai Noel.
Aprendi a esperar pelo fim de semana quando íamos ao circo ou ao cinema.
Depois ficou tudo igual até o dia que fui pra escola, e passei a esperar pelas férias.
A beleza e alegria de ser jovem foram maculadas pela tristeza de muitas esperas. O baile e o convite para dançar, um olhar, um aperto de mão e o beijo proibido. A espera da chuva, do sol e estar na fila para comprar ou pagar!
Quando marcamos a data para o casamento, contei meses, dias, e horas para finalmente ouvir, nós dois, somos um!
Continuei por anos e anos a esperar pelo meu marido, esperar pelos meus filhos nascerem, vê-los crescidos, formados e casados.
A vida é um eterno esperar a começar das coisas mais simples como esperar por um peixe que ignora a isca no anzol.
Ao semear flores, espero impaciente para vê-las sair da terra e mostrar suas caras, cada uma com seu jeitinho, sua elegância e sua cor. Esperei quatro anos para colher as primeiras uvas e continuo esperando para ver a glicínia florir. Mais triste é a espera de um barco voltando e um amor que demora a chegar...

Com a idade avançada já não sei mais esperar, tenho pouco tempo para longas esperas. Os projetos para o futuro são apenas rascunhos feitos nos momentos que antecedem o sono. Hoje eu espero pela morte como se fosse ao encontro de uma nova vida, sem tempo para despedidas, na mais surpreendente de todas as viagens, ao encontro de Deus.

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